Este trabalho analisa a relação entre imagem e gesto no interior do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), um movimento social agrário fundado no Brasil em 1984 e que se consolidou como uma das principais referências na luta por reforma agrária no país. Dentro do MST, ocorreu a fabricação de uma performance que se tornou bastante característica da visualidade do Movimento: um grupo de pessoas que ergue seus braços em conjunto. Este trabalho investiga como foi instituído este gesto entre os sem-terra por meio do uso de imagens. O corpus documental é composto por imagens publicadas ao longo das edições do Jornal dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, vinculado ao MST. Foram selecionadas as imagens que representam pessoas fazendo o gesto de erguer o braço, seja com a mão cerrada ou segurando um facão, um machado ou uma foice. Utiliza-se como referencial teórico o conceito de disciplina formulado por Michel Foucault em seu livro Vigiar e Punir. A disciplina se constitui, entre outros aspectos, pelo controle do corpo visando a potencialização da obediência e da produtividade de cada pessoa. Um dos elementos desse controle é a mecanização dos gestos e sua homogeneização, como ocorrido entre os integrantes do MST. No Jornal do MST, a produção e divulgação de imagens de sem terras erguendo seus braços não são mero registro de um comportamento que já havia se tornado constante. A imagem foi fabricada num processo que concedeu visibilidade ao que se interessava tornar repetível e padronizado. O gesto de erguer o braço nas manifestações coletivas não é a expressão de uma vontade individual, mas sim um comportamento sociopolítico, instituído por meio de um dispositivo disciplinar no qual a imagem é uma ferramenta fundamental no ajustamento das condutas dos sem terra.