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Com o objetivo de proporcionar aos estudantes do curso de Terapia Ocupacional do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro (IFRJ) a construção de saberes e práticas em conformidade com as diretrizes de políticas públicas do Sistema Único de Saúde (SUS), o presente projeto tem como proposta a integração ensino/serviço/comunidade, a partir da implantação de ações conjuntas com o Centro de Convivência e Cultura da Zona Oeste do Rio de Janeiro (Cecozo) e com os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) das áreas programáticas 5.1 e 5.2 (BRASIL, 2004). O Cecozo tem como público-alvo usuários de saúde mental vinculados ao SUS e pessoas da comunidade em geral da zona oeste. Com base no princípio clínico-político de integralidade do cuidado, propomos a construção de oficinas de criação e contato direto com os espaços de arte e cultura da zona oeste, com o objetivo de valorização e pertencimento ao território. Através dos processos criativos, pretende-se favorecer a escuta, o acolhimento, a expressividade, a criatividade, a inserção social e o protagonismo dos usuários, de forma a ampliar a rede de cuidados dos sujeitos em sofrimento mental, possibilitando-lhes novos modos de viver, de sentir e de agir, desestabilizando o lugar de vulnerabilidade social e do estigma da condição de “doente/paciente” na qual se encontram esses sujeitos.
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INTRODUÇÃO
De acordo com Amarante (2008), os serviços de saúde mental não devem atuar como espaços burocratizados – de tratamento da doença, objetivo inaugurado com o nascimento da psiquiatria –, mas como operadores de projetos de vida e promoção de autonomia. Nessa perspectiva, os Centros de Convivência e Cultura (Cecos) surgem como estratégia de atuação no território, nos espaços da vida e sociedade. De forma distinta dos Centros de Atenção Psicossociais (Caps) – que se constituem em equipamentos da saúde mental –, os Cecos não se configuram como instituições assistenciais, mas como espaço de articulação com a vida cotidiana, e têm como característica principal a proposta de fortalecimento das redes sociais e promoção de autonomia dos usuários dos serviços de saúde mental, com base na realização de atividades coletivas. As equipes dos Cecos são integradas por oficineiros, artistas plásticos, músicos, atores e artesãos, ou seja, profissionais das áreas de arte e cultura. Esses centros surgem no final da década de 1980, em São Paulo, Brasil, e vêm se expandindo pelos demais estados do país. Os Cecos foram criados por meio da Portaria n. 396 (2005) como: “Dispositivos públicos componentes da rede de atenção substitutiva em saúde mental, onde são oferecidos às pessoas com transtornos mentais espaços de sociabilidade, produção e intervenção na cidade”. Os usuários de saúde mental, além de passarem por grande sofrimento mental, também correspondem, em sua maioria, à população de vulnerabilidade social, o que prejudica a sua vinculação ao tratamento. Nesse contexto, a aposta do projeto é que os espaços coletivos potencializados pela vivência com a arte/o artesanato favoreçam o acolhimento das singularidades e a desconstrução do lugar da identidade sócio-histórica de “doente mental” que muitas vezes é referida aos sujeitos que apresentam sofrimento mental. Também é importante ressaltar que, embora a zona oeste do Rio de Janeiro registre, nos últimos anos, um crescente volume de investimentos do setor público em equipamentos sociais, ainda presenciamos escassos recursos assistenciais. Verifica-se que a área programática da zona oeste no Rio de Janeiro apresenta os piores indicadores de vida e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do município do Rio de Janeiro. De forma que esse projeto pretende contribuir para a ampliação da rede de cuidados nos setores de saúde, de arte e de cultura da zona oeste do Rio de Janeiro. Com base no princípio da economia solidária, propomos a construção de oficinas de criação e o contato direto com os espaços de arte e cultura da zona oeste, com o objetivo de construção conjunta de redes socioafetivas e culturais mediante aproximação entre artistas/artesãos, profissionais, usuários da saúde mental e comunidade, através do conhecimento de técnicas de arte e/ou artesanato, para que todos possam ser multiplicadores de diversas linguagens plásticas, assim como da importância do universo da arte/artesanato para os sujeitos em sofrimento mental. Consideramos esses princípios fundamentais na proposta de ampliação dos laços sociais, no emprego das oficinas de criação. Dessa forma, decidiu-se pela parceria com o Centro de Convivência e Cultura da Zona Oeste do Rio de Janeiro (Cecozo), que corresponde a um dispositivo de arte e cultura que atende a usuários dos serviços de saúde mental e a pessoas da comunidade em geral. Considera-se que o Cecozo consiste em um espaço privilegiado para a promoção de inclusão social e autonomia, devido à sua proposta de convivência e produção de cultura – que constituem objetivos fundamentais na saúde mental – e principalmente por estar localizado em um espaço de arte e cultura, que corresponde à Lona Cultural Elza Osborne (LCEO), o que favorece a construção de identidades referenciadas ao papel de artista e à ampliação das redes socioculturais para os usuários da saúde mental, em detrimento do papel de “doente/paciente” que geralmente ocupam esses usuários.
METODOLOGIA – No segundo semestre de 2018, foi oficializada a parceria com o Cecozo, com a participação do professor coordenador, de colaboradores e alunos voluntários do projeto. Naquele período, iniciaram-se os atendimentos, em um grupo composto por mulheres usuárias dos serviços de saúde mental, profissionais da saúde, familiares de usuários dos Caps e pessoas da comunidade da zona oeste. Com o intuito de aproximar o público-alvo da instituição de ensino IFRJ e de promover a qualificação teórico-prática a despeito dos materias utilizados na confecção dos objetos artesanais, foi realizado um curso de curta duração supervisionado por uma professora do curso de Farmácia do IFRJ. O curso abordou a temática sobre o uso de plantas medicinais, sob uma visão antroposófica, resgatando os saberes tradicionais com o manejo de plantas medicinais para fins terapêuticos e valorização desses saberes. O projeto teve duração de quatro semestres, com início no segundo semestre de 2018 e término no final do primeiro semestre de 2020.
RESULTADOS – A aposta do projeto consiste na promoção de autonomia e inclusão social dos usuários de saúde mental – acompanhados pelo Cecozo em parceria com os Caps da zona oeste do Rio de Janeiro – mediante a ampliação e o fortalecimento das redes sociais e culturais. Atualmente, a oficina é auto sustentável devido à venda dos artesanatos produzidos em eventos acadêmicos e culturais do IFRJ e da Lona Cultural Elza Osborne LCEO. A visibilidade e os convites para a participação nesses eventos promoveram o aumento da demanda para a comercialização dos produtos e, para que possamos atender-lhes, foi criado um segundo grupo, composto por mães e acompanhantes de crianças da oficina de teatro. Esse grupo, que se reúne na LCEO, é coordenado por duas integrantes da oficina, que estão repassando, para as demais mulheres, as técnicas aprendidas no projeto. Outras duas oficinas foram construídas por usuárias do projeto – que são profissionais de saúde – com o objetivo de propiciar autonomia e inclusão social à clientela acompanhada pelas profissionais. Dessa maneira, criou-se uma oficina de artes para os pais e acompanhantes das crianças atendidas no Capsi Pequeno Hans e outra que é oferecida aos usuários idosos, na clínica da família. No momento, o projeto apresenta parceria com a Rede de Economia Solidária e com a Assessoria & Planejamento para o Desenvolvimento (Asplande), que nos oferecem consultoria com objetivo de nos instrumentalizar para o planejamento, implementação e monitoramento de empreendimentos comunitários e cooperativos. Também estabelecemos uma parceria com artesãs da zona oeste do Rio de Janeiro, que ensinam técnicas de artesanato/arte com uso de materiais recicláveis. Além da comercialização dos produtos, outras ações foram realizadas. As usuárias criaram uma página virtual com a divulgação dos artesanatos produzidos pelo grupo e da marca Arte-Zanias, que se encontra em fase de análise pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). Além disso, ocorreu participação no curso introdutório em terapias externas em antroposofia realizado no IFRJ. A circulação e a participação no território foram incentivadas e produzidas através das atividades externas à LCEO, como visitas a museus e eventos para exposição e comercialização dos artefatos produzidos pelas participantes. Tais construções proporcionaram aos estudantes conhecimentos mais aprofundados sobre a proposta dos Cecos na rede de atenção psicossocial no território e o desenvolvimento de uma reflexão crítica sobre a questão da vulnerabilidade social vivenciada por essa clientela, em consonância com a concepção de economia solidária e de produção de trabalho e renda.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como aspecto psicossocial, foi visível uma melhora na autoestima, a ampliação de vínculos, a inclusão social das mulheres acompanhadas da rede de saúde mental, a autonomia, a geração de renda com as confecções dos produtos e o repasse de conhecimentos significativos em suas redes de trabalho e em sua comunidade. Os atendimentos em grupo, através das oficinas de criação, promoveram a discussão e problematização do lugar de estigma que os usuários dos serviços de saúde mental vêm ocupando e como ele se organiza, construindo uma visão crítica sobre esse processo e favorecendo nos usuários o protagonismo e a inclusão social, por meio do contato com experiências de criação e pela aproximação com a arte, a cultura e o lazer.
Agradecimentos
Reiteramos nossos agradecimentos aos esforços da comunidade acadêmica do IFRJ, em especial à Pró-Reitoria de Extensão do IFRJ, tanto no sentido do auxílio para realização de ações de extensão do projeto aprovado pelo edital de Pró-Extensão Interno n. 1/2019 e pelo Edital de Extensão n. 2/2019, quanto pela publicação das pesquisas em ações que são realizadas atualmente no entorno do IFRJ, campus Realengo.
Referências
Amarante, P. (2008). Saúde mental e atenção psicossocial. Rio de Janeiro: Fiocruz.
Ministério da Saúde do Brasil, Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde. (2004). Aprender SUS: o SUS e os cursos de Graduação da Área da Saúde. Brasília: MS.
Portaria SAS no 396, de 7 de julho de 2005. (2005, 8 de julho). Aprova diretrizes gerais para o Programa de Centros de Convivência e Cultura na rede de atenção em saúde mental do SUS. Diário Oficial da União, Brasília. Recuperado em 14 de março de 2020, de <http://www.normasbrasil.com.br/norma/portaria-396-2005_192226.html>
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