Este trabalho pretende discutir elementos sociais e históricos que foram mobilizados por governos latino-americanos para configurar relações de dependência e dominação nas suas correlações internas, principalmente atentando para as estratégias nacionais de desenvolvimento capitalista que os Estados nacionais com projetos hegemônicos regionais lançaram mão. Portanto, cabe compreender que as relações de dependência que subjugaram as populações latino-americanas não atuaram apenas externamente. Aqui se procura perceber como a exploração e as relações assimétricas e hegemônicas contaram com estratégias nacionais desenvolvidas por elites latino-americanas em desfavor de nações mais vulneráveis, num intrincado processo que reúne relações internacionais e interesses capitalistas locais. Particularmente no contexto histórico cá delimitado, quando da imposição de uma ditadura militar no Brasil, a pretensão é a de mostrar que entre a exploração imperialista dos Estados Unidos e os golpes militares na América Latina havia políticas de Estado praticadas pelos ocupantes do poder brasileiro que ambicionavam garantir-lhes o papel de potência regional. Quando se trata da análise documental, que, nesse caso, é a base do trabalho, é preciso uma inspeção crítica das fontes com o propósito historiográfico de fornecer uma densa narrativa dos fatos, submetendo o registro histórico a procedimentos analíticos de hipóteses-formação, testes e explanação. Foram coletadas mais de 300 páginas de documentos de quatro acervos organizados no Arquivo Nacional e no Arquivo Histórico do Itamaraty, em Brasília, na documentação acessível do Departamento de Estado dos Estados Unidos e, por fim, em parte da documentação do Movimento de Justiça e Direitos Humanos. Neste trabalho procuramos destacar a atuação política dos chefes militares brasileiros em conjunto com o capital privado nacional no âmbito da relação com países da América Latina, sob os quais o governo do Brasil teve ou pretendeu ter ingerência, ganhou relevância e importância nos interesses diplomáticos e políticos que mobilizaram para competir por maior hegemonia regional.