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Introdução
O contexto pandêmico da Sars-Cov-2 ou Covid-19 nos impôs mudanças emergenciais e adaptativas nos sistemas educacionais do Brasil (estados e municípios) e coincidiu com a adoção das diretivas relacionadas a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), que é o documento normativo de caráter nacional que estabeleceu um conjunto de princípios e orientações para a Educação Básica, tendo como principal caraterística a ênfase no desenvolvimento de competências e habilidades em detrimento do foco em conteúdo adotado nos marcos legais anteriores.
A
reforma altera a estrutura pedagógica, modifica os objetivos propostos para a
formação dos estudantes, incorpora elementos da contemporaneidade,
especialmente o uso dos recursos associados às tecnologias digitais,
enfatizando os recursos advindos da internet e seus serviços associados.
Considerando a relevância da BNCC
para reconfiguração dos currículos nacionais e seu impacto na formação inicial
e continuada dos docentes, estamos desenvolvendo uma pesquisa que visa analisar
a prática avaliava e as tecnologias no contexto do Ensino Médio pós pandemia, o
recorte que apresentamos é a etapa inicial do estudo e teve como objetivo:
analisar as concepções e propostas para a prática dos professores e avalição da
aprendizagem na BNCC.
Um estudo de natureza qualitativa,
realizado através da análise documental da BNCC, tendo como método para
tratamento dos dados: a análise textual discursiva, ATD, metodologia que “opera com significados
construídos a partir de um conjunto de textos.
De acordo com Moraes e Galiazzi (2020), as etapas da análise
textual discursiva, compreendem:
1 - Desmontagem dos textos: a unitarização; 2 – Categorizações 3 –
Captação do novo emergente. 4 – Elaboração do metatexto.
O processo de unitarização deu origem a 126 unidades de sentido, que foram reescritas e agrupadas em categorias iniciais, que posteriormente deram origem as categorias intermediarias e por último estruturamos três categorias finais: Educação e políticas públicas, Currículo e contemporaneidade e Prática docente e questão da avaliação da aprendizagem, será sobre esta última que trataremos neste recorte.
Prática
docente e questão da avaliação da aprendizagem na BNCC
Analisando
o texto da BNCC não são detalhados os pressupostos teóricos que fundamentam as
ações de ensino, prevalecendo como referência os marcos legais que regem o
sistema educacional no país, evidenciando as implicações da publicação do
documento a partir do qual os sistemas de ensino deverão “selecionar
e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas”
(BRASIL, 2018, p. 17) {...} “recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos
complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes
grupos de alunos” (BRASIL, 2018, p. 17).
As ações propostas implicam na
tomada de decisões no nível das redes de ensino, das escolas e dos docentes,
mudanças na estrutura física das unidades de ensino e processos formativos que
aportem conhecimentos capazes de atender a diversificação de metodologias e oferta
dos itinerários formativos organizados por cada rede, escolhidos e ofertados
pelas escolas.
No âmbito da docência a implementação de uma reforma curricular necessita considerar o papel dos professores como principais agentes do processo, pois são eles que irão materializar as orientações teórico-metodológicas, articular conteúdos e planejar tendo em vista o ambiente para o desenvolvimento das competências e habilidades definidas, considerando que:
a
prática docente no contexto da sala de aula não pode ser encarada como um
exercício meramente técnico, marcado pelo atendimento às prescrições
curriculares desenvolvidas por outrem. Os aspectos que perpassam o ofício do
professor são múltiplos e complexos, inviabilizando qualquer tentativa de
redução da sua ação (CRUZ, 2007, p. 197).
Nessa perspectiva, a função do
professor vai além da execução de ações prescritas, demandando estudo e
planejamento, uso de recursos e adoção de práticas avaliativas que contribuam
para acompanhar as aprendizagens e verificar as relações entre o proposto, as
competências e habilidades esperadas e o que foi atingido.
Quando
buscamos no documento referências às práticas avaliativas, temos poucas e
breves citações diretas com a exposição de aspectos gerais que precisam ser
ampliados e desenvolvidos no âmbito regional.
A
primeira indicação, evidencia a relevância da BNCC como referência para os
currículos no país e a consequente mudança nas práticas avaliativas:
a
BNCC integra a política nacional da Educação Básica e vai contribuir para o
alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e
municipal, referentes à formação de professores, à avaliação {...}.
(BRASIL, 2018, p. 8).
A
avaliação da aprendizagem, comumente, é um componente da prática pedagógica
pensada e executada pelos docentes tendo em vista os saberes profissionais, as
experiencias vividas, as concepções de educação o currículo e as
características específicas dos estudantes, sendo agora reorientadas pelos
novos parâmetros indicados pela Base.
No
tópico em que descreve a reorganização curricular o documento amplia a
orientação sobre a avaliação, enfatizando o caráter formativo e a qualificação
dos instrumentos e registros. Assim, para a construção regional dos currículos
é necessário entre outras ações:
construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de
processo ou de resultado {...}
{...}tomando tais registros como referência para melhorar o
desempenho da escola, dos professores e dos alunos; (BRASIL,
2018, p. 17).
A partir dessas unidades de sentido, podemos inferir que:
- a adoção da BNCC implicará na adequação dos sistemas de ensino e de suas práticas avaliativas, com a aplicação de uma avaliação na perspectiva formativa, tanto de processo quanto dos resultados.
- os procedimentos avaliativos devem ser diversificados e considerar as diversas habilidades dos estudantes, nesse sentido é necessário que a prática avaliativa seja desenvolvida utilizando diferentes instrumentos.
- os registros avaliativos devem expressar as aprendizagens desenvolvidas e as competências e habilidades que precisam ser revistas, transformando-se também em referentes para avaliar o trabalho docente e os processos de ensino.
Mais
uma vez, o texto não faz referências a pressupostos teóricos nem detalha formas
de operacionalizar a prática avaliativa, apenas aponta caminhos deixando um
espaço para contribuições das redes regionais, nas quais o contexto local deve ser
considerado. Esta oportunidade é ao mesmo tempo positiva por permitir esta
customização e desafiadora uma vez que a questão pode ser tratada de maneira
superficial com mudanças pouco significativas no processo avaliativo.
A
sugestão da avaliação na perspectiva formativa, pode referir-se à concepção de
uma prática processual de uso recente na literatura, usada pela primeira vez
por Scriven em 1967 com relação ao currículo, estendendo-se aos estudantes por
Bloom, Hastings e Madaus em 1971 (HADJI, 1994),
Assim,
temos pouco mais de cinquenta anos em que os estudos sobre avaliação passaram a
ressaltar o processo e a necessidade de acompanhar a aprendizagem, denominando
de avaliação formativa a que tem:
[...]antes
de tudo, uma finalidade pedagógica, o que a distingue da avaliação
administrativa, cuja finalidade é probatória e certificativa. A sua
característica essencial é a de ser integrada na accção de “formação”, de ser
incorporada no próprio acto de ensino. Tem por objetivo contribuir para
melhorar a aprendizagem do curso, informando o professor sobre as condições em
que está a decorrer a aprendizagem, e instruindo o aprendente sobre o seu
próprio percurso, os seus êxitos e as suas dificuldades (HADJI, 1994, p. 63 e
64).
A
reforma advinda da BNCC apresenta novos elementos a serem considerados, quando
resgatamos os princípios da tradicional organização curricular enfocando
conteúdos numa perspectiva pré-sociedade digital. Segundo Ávila e Giraffa
(2020):
A internet foi o grande elemento disruptivo que promoveu
significativas mudanças na forma como nos relacionamos, consumimos e produzimos
informação. Ela colocou no tecido social a opção da virtualidade como elemento
complementar às tradicionais atividades presenciais (ÁVILA e GIRAFFA, 2020,
p.180).
Ao
mesmo tempo que as fronteiras entre o presencial e o do espaço virtual estabeleceu
novas oportunidades, a pandemia mostrou que a falta de ambiência e fluência
digital foi um desafio para docentes e discente no que concerne a ensinar e
aprender neste cenário mundo digital.
Partindo do contexto de reforma e uso das tecnologias, a avaliação da aprendizagem, indicada na BNCC aponta uma perspectiva teórica, porém, é evasiva quanto aos instrumentos, tipos e suas funções a fim de ofertar aos docentes escolhas de percursos que achem mais adequado, o que reforça a necessidade de formação e de acompanhamento das ações para que não haja reprodução dos modelos tradicionais de memorização, descontextualizados que pouco contribuem para a formação crítica e emancipadora dos estudantes apenas por troca de recursos físicos por digitais sem a devida mudança.
Considerações
finais
A reforma do
Ensino Médio e a implementação da BNCC trarão mudanças profundas na estrutura
dos anos finais da Educação Básica no Brasil, esse contexto somado ao período
de ensino remoto e a intensificação do uso dos recursos tecnológicos trará
desafios significativos para os sistemas de ensino, escolas e principalmente
para os docentes.
Nesse sentido, as práticas
docentes, das quais destacamos a avaliação da aprendizagem, serão atravessadas
por fatores conceptuais e metodológicos que demandarão investimento na formação
dos professores e reflexões contínuas das atividades desenvolvidas nas escolas.
A proposta de desenvolvimento de competências
se insere nesse conjunto de mudanças introduzidas pela BNCC que para Zabala e
Arnau (2020), implicam: na necessidade de revisão dos conteúdos de aprendizagem
(conhecimentos, habilidades, valores ou atitudes) e a introdução de novos relacionados
as esferas pessoal, interpessoal e social.
Portanto, para a consolidação da reforma e
a efetivação das aprendizagens propostas reafirmamos a importância da avaliação
da aprendizagem e sua realização utilizando diferentes instrumentos e plataformas
que integrem tecnologia e ensino, subsidiando as ações de docência e
contribuindo para a firmação cidadã e que atenda as demandas da
contemporaneidade.
Referências
Bibliográficas
AVILA,
W.; GIRAFFA, L. M. A complexidade docente na contemporaneidade. In: Clarice
Ismério (Org.). Educação em suas múltiplas faces e sensibilidades. 1ed.
Ponta Grossa: Texto e Contexto, 2020, v. 1, p. 180-202.
BRASIL.
Base Nacional Comum Curricular - 3ª versão
Ensino Médio. Brasília: MEC, 2018. Disponível em: http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf. Acesso em: 03 de abril de 2019.
CRUZ, G. B. A
prática docente no contexto da sala de aula frente às reformas curriculares.
Educar, Curitiba, n. 29, p. 191-205, 2007. Disponível em: https://www.scielo.br/j/er/a/xtdbph9XCmYhbVVXnYv7bNp/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 10/09/2021.
HADJI,
C. Avaliação, regras do jogo: das
intenções aos instrumentos. Porto: Porto Editora LDA, 1994.
MORAES,
R.; GALIAZZI, M. C. Análise textual
discursiva. 3ª ed. Ijuí: Unijuí, 2020.
ZABALA, A.; ARNAU, L. Como aprender e ensinar
competências [recurso eletrônico]. Porto Alegre: Penso, 2014. E-PUB.
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