Pelle, o conquistador (1987) é um filme de produção dinamarquesa e sueca, que narra a migração do menino Pelle e seu pai Lasse, já idoso, no final do século XIX. Ao chegarem na Suécia, vão trabalhar numa fazenda, em péssimas condições de vida. Mutum (2007) é uma produção brasileira, de ambientação rural, e com uma narrativa também centrada em uma garoto com cerca de 9 anos, Thiago. Apesar da distância geográfica, os filmes têm em comum, além do foco narrativo centrado nas crianças, a preocupação em acompanhar, passo a passo, suas trajetórias iniciáticas. À sua maneira, cada garoto passará por uma sucessão de provas e descobertas, enfrentará obstáculos e contará com o auxílio de pessoas, próximas e distantes, crianças e adultos, de modo a ingressar, paulatinamente e não sem dor, na vida social. A presente comunicação tem por objetivo estudar a infância como trajetória iniciática, tendo por base, além desses dois filmes, o diálogo estabelecido pela relação entre cinema e educação, de acordo com o referencial teórico-metodológico construído com as contribuições de Deleuze, Merleau-Ponty, Duarte e Paul Ricoeur, numa perspectiva hermenêutica. Os resultados da investigação apontam o predomínio de determinados fundamentos educativos do cinema: 1) o fundamento cognitivo (Bordwell), pelas inferências do expectador na construção dos sentidos; 2) o fundamento mítico (Durand), no modo como os garotos se transformam ao contato com as provas e experiências; e 3) o fundamento antropológico (Morin), que contribui para a compreensão sociocultural da trajetória iniciática, cujo devir aponta para a partida rumo à vida adulta.