Um pequeno grupo de empresas atualmente tem grande poder na Internet e conseqüentemente sobre como as pessoas se comunicam e se educam. Mais poderosos do que a maioria das nações do planeta, essas empresas são estados super-digitais, penetrando nos espaços mais diversos, inclusive, nas escolas (Singer, 2017) . Um outro olhar sobre as relações entre tecnologia, educação e as dinâmicas de poder na sociedade é possível: um olhar a partir da ética dos hackers, fortemente marcada por valores como liberdade, paixão, criatividade e abertura (Himanen, 2001; Levy, 1984; Raymond, 1999). As comunidades hackers, além de espaços de criação tecnológica, são espaços de aprendizagem com características próximas daquelas que Freire (1992; 2000; 2005), Illich (1985) e outros autores da pedagogia crítica defendem. A educação hacker, aquela que emerge dessas comunidades, tem sido objeto de estudo de muitos pesquisadores, os quais, exaltam seu potencial na criação de um ecossistema de empoderamento social, favorecendo a autonomia e o pensamento crítico, contribuindo com as comunidades na luta contra os estados autoritários (Schrock, 2014; Martins, 2017; Amiel, Fedel, Arantes and Aguado, 2015). Este estudo tem como objetivo apresentar o potencial da educação hacker na criação de um ecossistema de empoderamento social, revelando um outro olhar sobre como tecnologia e educação podem se relacionar na busca de dinâmicas favoráveis à emancipação e autonomia. A metodologia adotada baseia-se no mapeamento de iniciativas práticas e estudos teóricos dos últimos cinco anos, bem como um contexto de pesquisa participante no projeto Jovem Hacker, realizado em São Paulo. Os resultados apontam para o potencial dessas iniciativas como um contexto de educação para o empoderamento, marcados pela autogestão, aprendizagem prática engajada e empoderamento tecnológico a partir das necessidades das comunidades locais.