Nesta comunicação, abordarei a crise que se teria abatido sobre a educação em uma sociedade cujas verdades absolutas e reguladoras da existência estariam em xeque. Tal crise se fundamentaria, dizem os críticos, em tecnologias, que, recheando rapidamente a realidade com "informações abstratas", "corrompem mentes, difundindo textos subtraídos ao controle"; corromperiam, enfim, o próprio saber. A indeterminação de que me vali até aqui na caracterização dessa suposta “crise” talvez leve a reconhecermos nossa própria época e a interferência do mundo virtual na Educação. Na realidade, porém, a partir de Heller, Chartier e Postman, descrevi a paisagem dos inícios do Renascimento e reações desencadeadas pela difusão da prensa de Gutenberg. Nesta fala, assim, em uma interface entre a Educação e as tecnologias de comunicação, viso estabelecer correspondências entre o contexto renascentista e a contemporaneidade imersa nos processos de virtualização. Minha hipótese é a de que, voltando os olhos para o século XVI, encontramos uma forma de pensar o fazer pedagógico que, mesmo que não tenha produzido muitos herdeiros nas propostas curriculares e reformas de ensino, é bastante pertinente para o atual cenário em que as informações colhidas na virtualidade disputam o protagonismo com as verdades escolares. E meus olhos, nessa volta, deparam-se com Michel de Montaigne, ensaísta francês. Também diante de um mundo em transformação, “selvagem” e incerto, ele não elabora suas ideias educacionais com orientações transcendentes. Nesse sentido, trago seu ensaio "Da educação das Crianças" para uma leitura contemporânea, atenta a nossos próprios problemas, e construo uma forma de pensar a Educação atual de maneira que a dúvida e a incerteza não sejam algo a evitar ou meras passagens até a verdade. Nesta comunicação, as proposições de Montaigne são mais atuais do que nunca. E relê-las nos permite redimensionar o que se enxerga como crise.