A zona portuária do Rio de Janeiro foi uma das áreas que mais sofreu intervenções urbanas realizadas para que a cidade recebesse os dois principais megaeventos esportivos do mundo: a Copa de 2014 e a Olimpíada Rio 2016. Essas transformações foram realizadas a partir de parcerias público-privadas (PPPs) com grandes empreiteiras, que hoje se revelaram negociatas espúrias viabilizadas com dinheiro público, para atender interesses privados do mercado e de agentes públicos corrompidos.Realizadas sem que houvesse diálogo com a população, as intervenções resultaram em legados e não-legados para a cidade, afetando os usos de diversos espaços públicos, dentre eles a área que foi denominada como Boulevard Olímpico, situado na região da Praça Mauá, cercada pelos bairros da Saúde e Gamboa.Este artigo, fruto de discussões que se deram no mestrado em Cultura e Territorialidades da Universidade Federal Fluminense (PPCult-UFF), traz reflexões sobre o processo de “revitalização” desta área e o impacto nas memórias e manifestações culturais deste cenário, contextualizando com David Harvey e suas questões sobre o direito à cidade, e contemporizando com os conceitos de culturas subalternizadas de Stuart Hall e culturas híbridas de Néstor García Canclini. O referido trabalho também faz uma abordagem de como seu deu a construção narrativa dessas intervenções urbanas na mídia, tendo como referência o olhar do geógrafo Marcelo Lopes de Souza.