No campo dos estudos sociológicos, a produção científica sobre o futebol brasileiro começou a se consolidar com a obra Universo do futebol: esporte e sociedade brasileira, do antropólogo Roberto DaMatta, publicada em 1982. DaMatta é considerado uma das referências basilares da literatura acadêmica no que concerne ao futebol. Por outro lado, o antropólogo representa uma das inúmeras referências masculinas que endossam a notória disparidade de gênero nas ciências sociais quando o objeto de uma pesquisa é relacionado ao futebol.Em 2016, pesquisadoras do Grupo de Estudos sobre Futebol e Torcidas (GEFuT/UFMG), Luiza dos Anjos e Marina Dantas, fizeram um levantamento no sobre grupos de pesquisa que envolvem o tema futebol de forma central ou em outras temáticas. Dentre os 61 apurados, apenas 13 mulheres destacam-se como líderes ou vice-líderes desses grupos, das quais 10 efetivamente se envolveram ou estão envolvidas em alguma pesquisa sobre futebol. Essa realidade condiz com as reflexões da pesquisadora Lourdes Bandeira, em seu artigo A contribuição da crítica feminista à ciência (2008), no qual afirma que a “ausência das mulheres e o respectivo silêncio em torno de sua presença na história e, por extensão, na história das ciências acabam por revelar, eles próprios, a associação hegemônica entre masculinidade e pensamento científico”.Tendo como referência a pesquisa que desenvolvo no programa de pós-graduação em Cultura e Territorialidades (PPCULT-UFF) sobre as práticas de consumo e o futebol, direcionando o olhar para esta expressão da cultura de massa nacional – como ressalta Stuart Hall (2015) –, ao mesmo tempo em que contempla um fenômeno da cultura de consumo, acredito que o ensaio traz ponderações relevantes da vivência etnográfica para contribuir com o fazer científico sob uma perspectiva feminista.