A partir da multiplicação de dispositivos móveis e sua funções comunicativas e interativas a nível global, as relações sociais foram deslocadas de contextos locais de interação e rearranjadas em extensões indefinidas, baseadas em uma noção de espaço-tempo diferenciados. Essas novas conexões aglutinam indivíduos em afinidades de interesses e de conhecimentos, propiciando um processo de cooperação e troca entre eles que independe de proximidades geográficas, e constitui uma nova forma de organização social. De um novo lugar cultural emergem outras abordagens perceptivas sobre ser cidadão e da própria noção de atuação sobre esse lugar, percepções essas fundamentais para a construção do sujeito político. É neste sentido que vemos a emergência de protestos que se apoiam em tecnologias cada vez mais avançadas, como por exemplo a realidade aumentada, que viabiliza a aplicação de camadas visuais ou sonoras à “realidade” a fim de construir diálogos e narrativas com um determinado ambiente. O crescente uso dessa mídia, e de tantas outras disponíveis atualmente, não remete, entretanto, a uma subordinação não-reflexiva à utilização dos códigos que emergem com novos sistemas tecnológicos, mas à capacidade de problematizá-los, deslocando suas perspectivas de uso e permitindo a criação de novas referências subjetivas através deles e produzir outros diálogos em prol da sociedade.Portanto, este trabalho tem o intuito de apresentar uma discussão sobre o afloramento de práticas artísticas que se debruçam sobre o uso crítico da tecnologia de Realidade Aumentada, que associado às redes de internet, visam gerar objeções a discursos e práticas de poder. O uso dessa linguagem, que abre margem para a colaboração do público e ações virtuais que acontecem através de aplicativos de celular, possibilita um deslocamento da compreensão local sobre manifestações político-ativistas, e corrobora para a estruturação de uma forma de engajamento que condiz com os avanços de uma sociedade tecnologizada.