Nesta apresentação buscaremos percorrer as experiências de vida e trabalho de descendentes de escravos e trabalhadores não livres de engenhos de cana-de-açúcar do estado da Paraíba, Brasil, vinculadas diretamente ao período escravocrata e envolvidas em situações de trabalho compulsório. Nosso debate partirá da análise de depoimentos de antigos trabalhadores de engenho do nordeste canavieiro brasileiro, que, embora circunscritos a um tempo histórico contemporâneo (séc. XX), remetem-nos a uma experiencia histórica compartilhada desde os tempos escravocratas e indicam uma situação de vida e trabalho repleta de cerceamentos e de obrigações ou “condições”, isto é, situações de trabalho compulsório que nos sugerem uma analogia à escravidão, tanto do ponto de vista analítico quanto êmico. Neste sentido, buscaremos analisar os diversos sentidos que a categoria escravidão pode apresentar, seja como referência a tempos imemoriais, seja como indexadora de um conjunto de condições concretas de vida e trabalho agenciado para sintetizar a “vida no engenho” no período pós-Abolição. O foco empírico da proposta se concentrará nos depoimentos dos moradores da comunidade de Mundo Novo, localizada no município de Areia-PB, trabalhadores do antigo engenho Mundo Novo, um dos primeiros movidos a vapor na Paraíba, com grande produção no período escravista e que funcionou até meados dos anos de 1990.