Apesar da imensa bibliografia crítica sobre Machado de Assis, poucos são os trabalhos que se ocupam da fragmentação formal, característica da grande fase machadiana. Alguns livros fundamentais, como Um Mestre na Periferia do Capitalismo, de Roberto Schwarz e Riso e Melancolia, de Sérgio Paulo Rouanet, oferecem interessantes análises, as quais contudo, além de não se interessarem pela fragmentação como ponto central, procuram explicar a forma machadiana a partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas, generalizando-a para os outros romances. Ora, não apenas há uma interessante diferença qualitativa entre Memórias Póstumas e Dom Casmurro, como parece essencial, para compreender o mecanismo de fragmentação formal, por sob análise a constituição subjetiva do autor ficcional Bento Santiago, como propõe acuradamente e em análise de raro fôlego Abel Barros Baptista, em Autobibliografias. Embora Abel aponte de modo contundente que a ficção de autores é marca essencial da fase madura de Machado de Assis, não extraí daí conclusões que se articulem com a condição subjetiva deste mesmo autor ficcional. Assim, o presente trabalho procede a uma leitura de Dom Casmurro com o objetivo de lançar luz sobre a fragmentação, como dispositivo formal através do qual uma dada constituição subjetiva se dá a ver: a de um indivíduo melancólico em busca de si mesmo. Procuramos ainda demonstrar, em nossa leitura, que esta constituição subjetiva, basilar na estrutura e na forma do romance, é central para a compreensão do modo de subjetivação moderno, pelo qual somos marcados. Sendo nossa pesquisa teórico-bibliográfica, seu desenvolvimento consistiu em três etapas: levantamento da fortuna crítica de Dom Casmurro e de Machado de Assis em geral; identificação de tradições literárias que privilegiem a fragmentação; articulação entre fragmentação e estrutura subjetiva moderna, à luz de instrumental psicanalítico. Nessa perspectiva, o trabalho objetiva reoxigenar os vínculos entre forma literária e constituição subjetiva. Palavra-chave: Dom Casmurro; Fragmentação Formal; Subjetividade; Melancolia