A figura mítica do rei D. Afonso Henriques foi sendo laboriosamente construída na literatura e historiografia e a sua imagem perpetuada através de diversas modalidades artísticas, como a pintura, gravura, escultura ou azulejaria. Das primeiras crónicas que relatam os feitos do valoroso conquistador, avançamos para a sua representação plástica, onde podemos destacar o icónico jacente de Santa Cruz de Coimbra. As diversas dinastias reinantes vão explorar o capital simbólico associado ao primeiro rei de Portugal em numerosas manifestações artísticas, como sucede no arco dos oficiais de São Jorge construído para a entrada de Filipe III de Espanha em Lisboa (1619). Os seus feitos militares e políticos vão adquirir novo realce após 1640, quando Portugal se separa de Espanha e a Casa de Bragança assume os destinos do reino. O Milagre de Ourique, ocorrido antes da Batalha de Ourique (1139), profetiza a vitória contra os mouros e a criação do reino de Portugal que surge, assim, como vontade divina. Vai ser sobejamente utilizado como argumento para defender a independência de Portugal e do direito dos Bragança ao trono. D. Afonso Henriques vai surgir com alguma frequência na azulejaria barroca portuguesa, em programas narrativos presentes em igrejas e mosteiros, com destaque para a Basílica de Castro Verde, nos Mosteiros de Alcobaça, São Vicente de Fora em Lisboa, Santa Cruz em Coimbra, São João de Tarouca e Sé de Viseu. Todos eles destacam o momento fundacional de Portugal e, com propósitos celebrativos e memorativos, procuram, em certa medida, afiançar a relevância das respectivas casas monástica e afirmar a sua proximidade à dinastia reinante. Partindo de fontes narrativas escritas, congregam política, religião e história, em felizes composições a azul e branco, de norte a sul de Portugal